ReData coloca Brasil na rota global dos investimentos em data centers, destaca presidente da ABDC
Com o ReData, expetitativa do setor é multiplicar em até 4x capacitade de processamento de datos ao longo dos próximos anos.

Agência TechReg
October 6, 2025
Brasília - O presidente da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), Renan Lima Alves, afirmou em entrevista à CBN que o ReData, regime especial lançado pelo governo federal, é um marco para o setor porque posiciona o Brasil como protagonista na nova economia digital.
“O ReData permite ao país competir globalmente, exportar serviços e atrair investimentos bilionários, aproveitando nossa matriz elétrica renovável e custos competitivos”, destacou Renan.
O programa zera impostos federais - como IPI e tributos de importação - para equipamentos sem similaridade nacional, criando condições semelhantes às de países que hoje lideram o mercado mundial de infraestrutura digital.
De acordo com o presidente da ABDC, mais de 50% da capacidade de data centers da América Latina está concentrada no Brasil, o que representa cerca de 0,8 gigawatt de carga de TI.
O continente latino-americano como um todo soma 1,5 GW, enquanto os Estados Unidos ultrapassam 40 GW.
Com o ReData, a expectativa é que o Brasil triplique sua capacidade nos próximos dez anos, alcançando aproximadamente 3 gigawatts, consolidando-se como hub tecnológico da região.
Renan ressaltou ainda a responsabilidade ambiental e as contrapartidas exigidas pelo programa, como uso obrigatório de energia renovável, sistemas de refrigeração com circuito fechado de água e investimentos mínimos em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Essas exigências, segundo ele, garantem que o crescimento do setor seja sustentável e gere benefícios concretos à economia nacional, à inovação e ao meio ambiente.
Outro ponto enfatizado foi o potencial de geração de empregos qualificados. “A criticidade operacional de um data center é altíssima. Precisamos de profissionais 24 horas por dia, com formação técnica e remuneração acima da média. É uma cadeia que envolve engenheiros, projetistas, técnicos de manutenção, fornecedores de energia e construtoras especializadas”, afirmou.
Encerrando a entrevista, Renan destacou que o avanço do ReData reflete o processo de digitalização acelerada da economia brasileira, transformando o país de consumidor de tecnologia em exportador de infraestrutura digital.
Confira a íntegra da entrevista:
Milton: Renan Lima Alves, qual é a importância do ReData - esse plano nacional para o setor de data centers - dentro das perspectivas de investimentos no Brasil?
Renan:
O ReData é um regime especial para data centers que isenta todos os impostos federais, tanto o IPI quanto os impostos de importação para produtos sem similaridade nacional. Isso é extremamente importante porque, até hoje, o Brasil tinha uma postura muito passiva - recebia apenas investimentos voltados ao atendimento do mercado interno.
Com o ReData, o país passa a competir globalmente, podendo prospectar projetos internacionais e exportar serviços de data center. Temos um preço competitivo e uma matriz elétrica renovável, o que torna essa oportunidade ainda mais atrativa. Agora, com o avanço da inteligência artificial e esse novo regime, o Brasil pode “surfar” essa onda global.
Cássia: Você mencionou nossa matriz elétrica renovável, que é um ponto importante nessa discussão. O que já existe em termos de eficiência energética para reduzir o consumo dos data centers?
Renan:
A eficiência dos data centers tem aumentado muito. Os hardwares processam mais dados com o mesmo consumo elétrico e os sistemas de refrigeração estão cada vez mais eficientes.
Mas é importante lembrar que o aumento do consumo acompanha a digitalização da economia: streaming, nuvem, dispositivos conectados… tudo isso demanda data centers.
Mesmo assim, o setor consome apenas 0,03% da matriz elétrica brasileira, enquanto outras indústrias, como a metalmecânica, chegam a 30%. Ou seja, é um setor em evidência, mas ainda pequeno em relação às grandes bases da economia tradicional - embora seja a base da economia moderna.
Milton: Que cuidados o Brasil deve ter ao tratar desse tema em relação aos Estados Unidos? O que temos a oferecer?
Renan:
O ReData não foi criado por causa dos EUA. O ministro Haddad já havia anunciado, em maio, os benefícios para fomentar a indústria nacional - antes mesmo das tarifas americanas.
Claro que há interesse dos EUA, pois as big techs e a infraestrutura vêm em grande parte de lá. Mas o programa também atrai projetos da Europa e da Ásia.
As contrapartidas previstas são muito importantes:
investimento em pesquisa e desenvolvimento;
uso de energia renovável;
e sistemas de refrigeração com circuito fechado de água, sem desperdício.
Isso garante que o Brasil desenvolva renda, inovação e uma indústria sustentável no longo prazo.
Cássia: Em termos de proporção, qual é a fatia brasileira no cenário global de data centers?
Renan:
Mais de 50% dos data centers da América Latina estão no Brasil, mas ainda estamos muito atrás dos grandes mercados.
Temos cerca de 1,5 gigawatt de carga de TI instalada, enquanto os Estados Unidos superam 40 gigawatts.
Com o ReData, o potencial é crescer para 3 gigawatts em dez anos, o que representa uma multiplicação significativa - ainda distante das potências globais, mas suficiente para transformar o Brasil em um hub da América Latina.
Milton: Que tipo de profissional o país vai precisar para sustentar essa estrutura?
Renan:
O setor envolve toda uma cadeia: arquitetos de TI, engenheiros, projetistas, fabricantes de equipamentos, técnicos de manutenção, empresas de energia e refrigeração.
A criticidade é muito alta - se um data center para, o impacto é imediato em bolsas, bancos e serviços digitais.
Por isso, o nível técnico é elevado e os salários são muito acima da média.
Profissionais precisam estar disponíveis 24h por dia, com atendimento remoto em até 30 minutos e presencial em até 2 horas.
Ou seja, o setor gera empregos altamente qualificados e bem remunerados, sustentando uma economia moderna e de alta produtividade.
Milton: Renan Lima Alves, muito obrigado pelas informações.
Renan:
Eu que agradeço, Cássia e Milton. Um grande abraço.
